Os Quatro Temperamentos, Parte 3 - Temperamento Melancólico

Santa Teresinha do Menino Jesus, uma melancólica.

Temperamento melancólico


Características essenciais com relação à excitabilidade: a do melancólico é débil e difícil ao princípio, mas forte e profunda por repetidas impressões. Sua reação apresenta estes mesmos caracteres. Quanto à duração, pode ser larga. O melancólico não esquece facilmente.

Boas qualidades: Os melancólicos têm uma sensibilidade menos viva do que a dos sanguíneos, mas mais profunda. São naturalmente inclinados à reflexão, à solidão, ao silêncio, à piedade e vida interior. Compadecem-se facilmente das misérias do próximo, são benfeitores da humanidade, sabem levar a abnegação até o heroísmo, sobretudo ao lado dos enfermos.

Sua inteligência pode ser aguda e profunda, maturando suas idéias com a reflexão e a calma. É pensador e gosta do silêncio e da solidão. Pode ser um intelectual seco e egoísta, encerrando-se na sua torre de marfim, ou um contemplativo que se ocupe das coisas de Deus e do espírito. Sente atração pela arte e tem aptidão para as ciências.

Seu coração é de uma grande riqueza sentimental. Quando ama, dificilmente se desprende de suas afeições, porque nele as impressões se arraigam com muita profundidade. Sofre com a frieza ou a ingratidão. A vontade segue a vicissitude de suas forças físicas: débil e quase nula quando o trabalho o tenha esgotado; forte e generosa quando desfruta de saúde ou quando um raio de alegria ilumina seu espírito. É sóbrio e não sente a desordem passional, que tanto atormenta os sanguíneos. É o temperamento oposto ao sanguíneo, como o colérico é oposto ao fleumático.

Foram de temperamento melancólico o Apóstolo São João, São Bernardo, São Luís Gonzaga, Santa Teresinha do Menino Jesus, Pascal.

Santa Teresinha do Menino Jesus tinha um temperamento melancólico.

Más qualidades: O lado desfavorável deste temperamento é a tendência exageradamente inclinada à tristeza e à melancolia. Quando recebem alguma forte impressão, ela penetra-lhes profundamente a alma e lhes produz uma ferida sangrante. Não possuem o coração na mão como o sanguíneo, mas, sim, muito no fundo, e aí saboreiam a sós sua amargura. Sentem-se inclinados ao pessimismo, ao ver sempre o lado difícil das coisas, ao exagerar as dificuldades. Isto os torna retraídos e tímidos, propensos à desconfiança em suas próprias forças, ao desalento, à indecisão, aos escrúpulos e a certa espécie de misantropia.

São irresolutos por medo de fracassar em suas empresas. O melancólico “nunca sabe acabar”, como dizia Santa Teresa. É o homem das oportunidades perdidas. Enquanto os demais estão do outro lado do rio, ele está pensando e refletindo, sem se atrever a atravessá-lo. Sofrem muito e fazem sofrer aos demais sem querê-lo, porque, no fundo, são bons. Santa Teresa não os julgava aptos à vida religiosa, sobretudo quando a melancolia está arraigada (cf. Fundações, c. 7. Tenha-se em conta que a “melancolia”, sobre a qual havia se pronunciado, refere-se somente ao temperamento melancólico, e não aos extravios de um caráter voluntariamente neurastênico).

Educação do melancólico: O educador deverá ter muito em conta a forte inclinação do melancólico à concentração sobre si mesmo. Do contrário, expõe-se a não compreendê-lo e a tratá-lo com grande injustiça e falta de tato. O sanguíneo é franco e aberto na confissão; o melancólico, pelo contrário, quer desafogar-se por meio de um colóquio espiritual, mas não pode; o colérico pode expressar-se, mas não quer; o fleumático não pode nem quer fazê-lo. Deve-se ter muito em conta tudo isto, para não intentar procedimentos educativos contraproducentes.

Os melancólicos são naturalmente inclinados à reflexão, à solidão, ao silêncio, à piedade e vida interior.

É preciso infundir no melancólico uma grande confiança em Deus e um sereno otimismo da vida. Deve-se inspirar-lhe uma suma confiança em si mesmo, ou seja, na amplitude de sua alma para as grandes empresas. É preciso aproveitar a sua inclinação à reflexão para fazê-lo compreender que não há motivo algum para ser suscetível, desconfiado e retraído. Se for preciso, deve-se submetê-lo a um regime de repouso e sobrealimentação (Santa Teresa curava muitas monjas melancólicas proibindo a longa oração, as vigílias e jejuns e “fazendo-as divertir-se” — cf. Quartas moradas, 3, 12 e 13; Fundações, 6, 14). Acima de tudo, deve-se combater a sua indecisão e covardia, fazendo-o tomar resoluções firmes e lançar-se a grandes empresas com ânimo e otimismo.